Dados abertos são chave para o futuro, diz pai do WWW
Como das vezes anteriores em que esteve no Brasil, Tim Berners-Lee passou pelo país, neste mês, (maio) empunhando a sua invisível e indissociável bandeira pela internet livre, democrática e descentralizada. O físico britânico, que há 24 anos criou nada menos que a “www”, é hoje diretor do World Wide Web Consortium (W3C), instituição que pesquisa padrões internacionais para a rede e organiza a maior conferência anual para debater a internet. No Rio de Janeiro, Tim abordou questões políticas e sociais da web, declarando, em meio a um debate sobre leis brasileiras que regulam a internet e o acesso a conteúdos, que não se pode separar as coisas [na web]. “É metade técnico, metade social, pois a web funciona porque as pessoas fazem links.”
O “metade técnico, metade social” também se aplica a ele mesmo. No currículo, é definido como cientista, professor do MIT (Massachussets Institute of Technology), físico. No dia a dia, Tim é umas das vozes mais relevantes na defesa da abertura de dados públicos. Costuma dizer que “dados sustentam a nossa economia e a nossa sociedade”. Se envolve em iniciativas a favor da democracia com suporte da web, a exemplo do projetoData.gov.UK, lançado pelo governo do Reino Unido para disponibilizar on-line dados aos cidadãos. No Brasil, Tim não tem projeto como esse em andamento, mas tem opiniões. “Aqui eu vejo que existe uma forma particular e entusiasmada de representar o espírito inteligente e colaborativo da internet”, disse durante a conferência no Rio.
Tim Berners-Lee tem ferramentas para estudar a internet do Brasil. E para listá-la, inclusive, em um índice. Na World Wide Web Foundation, ele lançou, há oito meses, o WebIndex, ferramenta que mensura e reporta como a web impacta nações nas dimensões política, social e econômica. No primeiro ranking divulgado, com 61 países, o Brasil figurou na 24º posição, o segundo melhor colocado na América do Sul – depois do Chile –, e o melhor entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China). As estatísticas apontaram que o impacto da web no Brasil é maior no campo social do que nos campos político e econômico.
Web socialNo Brasil, o impacto social da web diz respeito ao crescente acesso às Tecnologias da Informação e da Comunicação pela população, que ano a ano se mostra mais conectada em números de horas navegando na web e em presença nas redes sociais. As potencialidades para uma nação que tem essa vocação “social” na web, entretanto, ainda não são tão exploradas a favor de “causas” como em outros países que também se mostram bastante sociais nas pesquisas. Nos Estados Unidos, o governo Obama buscou canalizar parte da energia dos desenvolvedores para a causa da educação. Lançou, em 2012, o DataGov Education, um chamado para que a sociedade civil desenvolva aplicativos e outras soluções para a área a partir de dados públicos abertos.
Hackatlon BrasileiroNo Brasil, o Hackathon Dados da Educação Básica, realizado há dois meses, foi um primeiro sinal de que já se fala em utilizar dados públicos da educação brasileira para pensar soluções. Com apoio da Fundação Lemann, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC), promoveu em Brasília uma maratona em que os participantes tiveram que se valer de dado de avaliações oficiais do Inep para desenvolver softwares. O projeto vencedor, A escola que queremos, já está on-line, em versão piloto, e permite ao usuário comparar indicadores de qualidade das escolas públicas brasileiras. Além disso, foi desenvolvido em licença aberta, o que permite que qualquer desenvolvedor possa colaborar para o aperfeiçoamento. “A ideia é você criar um índice seu, de qualidade da educação, a partir da sua escolha dos indicadores importantes para avaliar a escola, indo além do Ideb, que avalia a proficiência dos alunos em português, em matemática e a taxa de aprovação”, explica Fernanda Campagnucci, uma das integrantes da equipe desenvolvedora.
Estudantes semantizadosCompilar dados e criar relações entre eles na web. Está aí uma das atividades preferidas de Tim Berners-Lee. Um dia antes da participação do “pai da web” no painel aberto durante a World Wide Web Conference, no Rio, Tim esteve com estudantes, em um encontro fechado para universitários. Aos jovens pesquisadores, ele costuma falar sobre a “web do futuro”, desafiando-os a pensar sobre o que vamos precisar, e sempre insiste na necessidade de se disponibilizar todos os dados úteis na web. “A tecnologia vai se tornar cada vez mais fácil, o que vai aumentar a participação por meio de aplicativos”, prevê Tim.
Ele não se refere aos aplicativos que baixamos nas appstores da vida somente. Fala de sistemas que se conectam com outros sistemas. Questão que passa por interoperabilidade, por padrões abertos, que permitem que dados de diferentes sistemas conversem, se comuniquem. Tim sugere o impacto de uma web por toda a parte: “Vai ser possível controlar uma prótese do próprio corpo na internet, e isso realmente é algo incrível”, disse ele ao público com o entusiasmo de sempre.
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