Negócios sociais crescem e se estruturam no Brasil
Até bem pouco tempo, ninguém sabia direito o que eram negócios sociais. Uns achavam que era caridade, outros desconfiavam que não pudessem competir de igual para igual com empresas que não tinham a preocupação de causar impacto social. Hoje, no entanto, o setor já dá mostras de que está cada dia mais estruturado, com mais empreendedores interessados, mais aceleradoras cuidando de ajudá-los, governos mais atentos ao movimento e, claro, mais recursos financeiros disponíveis. E nesse ambiente efervescente, educação aparece como uma das áreas que mais têm atraído atenções.
“Há quatro anos, o Brasil tinha um fundo de investimento voltado para negócios sociais. Hoje já são uns dez”, exemplifica Maure Pessanha, diretora executiva da Artemísia, organização que fomenta e fortalece os negócios sociais do país. “Nesse universo que ganha força, um dos setores mais pulsantes é a educação. A área tem atraído mais empreendedores e com um olhar mais inovador”, afirma ela.
Mas antes de apresentar outras forças que vêm dando estrutura ao setor, é bom recapitular. Negócios sociais são um novo um tipo de empresa no Brasil, que usam a lógica do capitalismo para atacar um problema social que o Estado, sozinho, não consegue resolver. É o tal setor 2,5; não é o segundo setor, representado pela iniciativa privada, nem o terceiro, que reúne as organizações sem fins lucrativos. É algo que fica ali, bem no meio. “Os negócios sociais reúnem esses dois mundos. Existe uma geração que não se contenta mais em só ganhar dinheiro. Tenho visto esse movimento crescer no mundo, inclusive na América Latina”, disse Peter Holbrook, diretor executivo da Social Enterprise UK, uma rede que agrega mais de 15 mil empresas inglesas com esse perfil – o Reino Unido é um das regiões do mundo onde os negócios sociais estão mais bem desenvolvidos; lá, a estimativa do governo é que o setor movimente R$ 74 bilhões por ano.
No Brasil, não é possível dizer nem sequer o número exato de empresas que compõem o setor, mas alguns indícios mostram que ele vem ficando mais forte. Segundo Pessanha, a estimativa é que haja R$ 250 milhões disponíveis para investimento de impacto no país, somando os valores que os fundos estão dispostos a desembolsar. Internacionalmente, o banco JP Morgan, que abriu uma divisão apenas para tratar do que chama de “finanças sociais”, fez uma pesquisa com 99 investidores para fazer uma estimativa parecida. O resultado que encontrou foi que, em 2013, os fundos podem injetar até US$ 9 bilhões, ou R$ 18,1 bilhões, em iniciativas de impacto, 12,5% mais que no ano passado. Nessa mesma pesquisa, o banco perguntou aos investidores quais eram as áreas em que planejavam colocar recursos. Dos que tinham intenção em investir em mercados em desenvolvimento, como o Brasil, 47% citaram educação como uma área possível, ficando atrás apenas de alimentação e agricultura (63%), serviços financeiros e microfinanças (59%) e saúde (51%).
Para Marcella de Barros Coelho, da Endeavor, organização pioneira no estímulo ao empreendedorismo no Brasil, parte do aumento no interesse em negócios sociais pode se explicar pelo crescimento econômico das classes de poder aquisitivo mais baixo. “São 140 milhões de pessoas na base da pirâmide com um poder de compra enorme”, diz ela. Com mais gente consumindo e demandando serviços a que antes não tinham acesso, os negócios tendem a ter mais apelo. Assim, a Endeavor tem visto crescer o número de startups interessadas em investimento com impacto social. A demanda é tão grande que a ONG lançou, em parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o projeto Visão de Sucesso, voltado a apoiar iniciativas de impacto que visem a base da pirâmide.
Na tentativa de começar a quantificar o setor, em 2011, entidades envolvidas com negócios sociais fizeram um mapeamento que localizou 140 empresas desse tipo. Para se ter uma base de comparação, atualmente uma pesquisa em andamento está analisando o perfil de 120 startups só de educação. No programa Start‐Up Brasil, lançado pelo governo federal para estimular o empreendedorismo no país, uma das nove aceleradoras selecionadas para participar, a Pipa, só trabalha com negócios sociais. Além disso, a academia brasileira ganha uma presença de peso a partir da semana que vem com o lançamento do Yunus ESPM Social Business Centre, sobre o qual o Porvir já falou.
Saiba mais
Quem tiver ficado curioso e quiser saber mais sobre o tema pode participar na próxima sexta-feira, 24, às 19h30, do Impacto Brasil. O evento, organizado pela Pipa, acontece simultaneamente em São Paulo, Rio e Porto Alegre. Uma palestra apresentará as oportunidades de negócios em investimento de impacto e outra apresentará os recursos disponíveis para os interessados em entrar nesse mundo. O ingresso custa R$ 15 e as inscrições são feitas pelo site do evento.
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