segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Otimismo com crescimento da economia da América Latina em 2014 até 2016. segundo Banco Mundial

http://www.wharton.universia.net/index.cfm?fa=viewArticle&id=2426&language=portuguese

Otimismo e riscos: Panorama da América Latina em 2014




A desaceleração do comércio mundial, as condições financeiras mais difíceis e os mercados menos favoráveis às matérias-primas em 2013 deixaram muitos países da América Latina e do Caribe às voltas com um crescimento relativamente frágil. É o que afirma o Banco Mundial em seu último relatório sobre perspectivas econômicas para o mundo divulgado no último dia 14 de janeiro. Apesar disso, a instituição estima que o Produto Interno Bruto (PIB) da região terá um "fortalecimento sustentado" nos próximos exercícios.

O Banco Mundial calcula que a América Latina crescerá 2,9% em 2014, e 3,1% em 2015, saltando para 3,7% em 2016. A instituição salienta que a demanda interna diminuiu moderadamente no Brasil, que a atividade econômica está começando a se recuperar no México, bem como as exportações na América Central graças, em parte, à ampliação do Canal do Panamá.

Hugo A. Macías, diretor científico do Centro de Pesquisas Econômicas, Contábeis e Administrativas da Universidade de Medellín, na Colômbia, diz que há quatro razões para a recuperação moderada do PIB latino-americano em 2014, com menor retomada na Argentina e no Brasil. Em primeiro lugar, "um melhor comportamento da economia mundial e sua consequente demanda de importações oriundas da região; por outro lado, observa-se a expansão moderada do consumo privado regional, além da importante recuperação do México em 2013 graças à produção e à arrecadação fiscal possibilitada pela recente reforma tributária; e, por último, o comportamento positivo do Caribe liderado pelos exportadores de energia, Suriname e Guiana", observa Macías.

Alfredo Eduardo Villafañe, professor titular e consultor da Universidade de Morón, na Argentina, também acredita que as economias da América Latina melhorarão em 2014. Embora a região tenha crescido em ritmo modesto em 2012 e 2013 desde 2004, diz, "observa-se ali uma transformação positiva que superou as crises econômica e financeira mundial de 2008 demonstrando força diante das turbulências e um bom potencial de crescimento". Para ele, espera-se para 2014 um ambiente moderadamente mais favorável, que contribuirá para aumentar a demanda externa e as exportações da região. De igual modo, prevê-se que o consumo privado continue a se expandir, embora a taxas mais baixas do que nos períodos anteriores, e acrescenta que "o desafio de como aumentar o investimento continuará a ser um objetivo importante a ser atingido".

O otimismo com relação à evolução da América Latina durante este ano parece ser generalizado. O Relatório Econômico Mundial de 2014 da escola de negócios espanhola Esade, divulgado em 14 de janeiro, prevê que a economia latino-americana crescerá 3,5% no exercício atual, um percentual maior do que o de 2013, que ficou alguns décimos abaixo de 3%, uma das menores taxas da última década. "É preciso que a economia da região reforce seus motores internos de crescimento para compensar a evolução mais hesitante do consumo das famílias. É importante manter o estímulo do investimento privado que vem crescendo nos últimos anos", disse Josep Comajuncosa, professor do departamento de economia da Esade, durante a apresentação do estudo na intranet da escola.

Fatores-chaves: os riscos

Apesar do otimismo, há fatores de risco que devem ser levados em conta. O Banco Mundial e a própria Esade chamam a atenção principalmente para dois: a mais que provável retirada dos estímulos do Federal Reserve, nos EUA, e a desaceleração do crescimento chinês. O organismo internacional explica que se houver "uma desaceleração mais intensa do que a esperada na China", isso poderá resultar em uma queda "mais prolongada e séria" nos preços das commodities, o que levaria à queda nas exportações regionais. Se o Fed começar a elevar as taxas de juros, poderão ocorrer altas nos países desenvolvidos fazendo, provavelmente, com os que os fluxos de capital para a região caiam consideravelmente em busca de outros mercados mais seguros e com juros mais altos, o que desestabilizaria o financiamento dos saldos em conta corrente, provocaria desvalorizações significativas nas taxas de juros e, possivelmente, elevaria a inflação em decorrência do aumento dos produtos importados. Tudo isso pode culminar com a introdução de políticas monetárias mais restritivas, reduzindo assim ainda mais as perspectivas de crescimento.

Embora não diminuam a importância do contexto internacional, os professores Macías e Villafañe se preocupam mais com fatores internos que serão fundamentais para as economias latino-americanas nos próximos meses. Assim, Macías, da Universidade de Medellín, acredita que a América Latina terá em 2014 um conjunto de riscos e oportunidades em frentes distintas. "Há uma série de ameaças que depende do contexto externo e outra do contexto regional. Com relação à primeira, a região terá pela frente uma volatilidade elevada, aporte limitado do consumo para o crescimento do PIB devido à desaceleração da massa salarial e do crédito, além de impulso fiscal restrito. No contexto regional também será necessário fazer frente à vulnerabilidade externa devido à deterioração da conta corrente em decorrência do custo crescente de financiamento do déficit", observa.

Villafañe observa que "a América Latina passa por uma situação de moderação nas taxas de crescimento devido à queda, ainda que moderada, da demanda externa e a limitações estruturais de suas economias". Ele acredita que tal situação se explica "pelo fato de que não há políticas que corrijam os desequilíbrios estruturais das economias latino-americanas e que elevem sua capacidade de crescimento". Segundo Villafañe, para enfrentar novos desafios e oportunidades, "os países da região deveriam elevar a competitividade mediante a diversificação da economia, maior desempenho logístico e um posicionamento no âmbito das cadeias de valor em direção a atividades de maior valor agregado". Para o especialista, os governos latino-americanos deveriam não apenas se preocupar em aumentar a produtividade, como também procurar agir em duas frentes importantes: "De um lado, deveriam tentar reduzir os níveis de pobreza e de desigualdade internos, o que é fator essencial para o progresso dos países sob todos os aspectos; por outro lado, devem satisfazer as demandas crescentes de uma classe média emergente, que exige investimentos para modernização desses países do ponto de vista não apenas das infraestruturas, como também das políticas de bem-estar social."

Ele acrescenta que outro fator importante para a evolução do crescimento econômico na América Latina consiste em saber se o volume de investimentos públicos se manterá em 2014 nos níveis anteriores ou se, ao contrário, diminuirá, "uma vez que alguns países já anunciaram orçamentos limitados para se ajustar à crise internacional".

Por países

O Banco Mundial também fez previsões econômicas por países específicos. Assim, a instituição calcula que no Brasil o avanço das exportações e dos investimentos públicos para a Copa do Mundo e para os Jogos Olímpicos contribuirão para que o país tenha um "crescimento modesto, porém sustentável", que será de 2,4% em 2014. De acordo com as estimativas da instituição, Argentina e Paraguai terão um período de "moderação" depois da prosperidade experimentada em 2013 e crescerão, em média, entre 2,6% e 3,6%, respectivamente. Espera-se que o PIB do México chegue a 3,4% em 2014, e o da Colômbia, 4,3%. As perspectivas para a América Central são "positivas" com aceleração no crescimento de Belize, El Salvador e Honduras. A instituição antecipa que os países caribenhos deverão crescer 3,4% este ano, graças especialmente ao turismo. A economia venezuelana, por sua vez, terá um crescimento débil a média prazo, enquanto persistir a escassez de produtos, os gargalos na oferta e as altas taxas de inflação. Comajuncosa, da Esade, discorre sobre a situação de alguns dos mercados de maior porte. Com relação ao México, ele diz que "no ano passado a economia se viu tolhida pelo declínio das exportações para os EUA, o que deverá diminuir este ano". Com relação ao Brasil, ele acredita que o país "continuará a brigar com a inflação, o que obrigará o banco central a manter as taxas de juros em patamares elevados".

Para Villafañe, os países que mais inspiram otimismo em 2014 são os que têm políticas macroeconômicas sólidas, que mantêm a situação fiscal sob controle e que fazem reformas que liberam o potencial dessas economias. "Eu poria nesse grupo países como o México, Chile, Colômbia, Peru, Panamá e Bolívia, os quais constituirão, em 2014, o grupo de países latino-americanos com melhor desempenho econômico. A retomada da economia americana e a previsão do crescimento de sua demanda permitem prever que os países do Pacífico [membros da Aliança do Pacífico, acordo comercial de que fazem parte Chile, Colômbia, México e Peru] serão os mais beneficiados este ano."

Com relação aos países que terão momentos mais difíceis, em primeiro lugar aparece a Venezuela: "Espera-se que haja uma desvalorização importante da moeda nacional em 2014. Num país que importa mais de 80% do que consome, não falta especulação, porque poucos têm acesso ao dólar oficial. Deverá haver maior intervenção na economia. Será um ano complicado para a Venezuela. A inflação continua a acelerar e continuará a ser a mais elevada das Américas." O presidente Nicolás Maduro admitiu durante seu discurso de fim de ano que a inflação deverá chegar a 56,2%. A Argentina também está entre os países com perspectivas sombrias em 2014, já que vem "empurrando sem resolver sérios problemas econômicos, políticos e sociais e inflação elevada [em torno de 28%], restrições cambiais e dificuldades por falta de energia e insegurança". Por último, Villafañe aponta o Brasil como um dos países que terão um ano muito difícil em função de seus "desequilíbrios internos (inflação) e externos (embora tenha superávit comercial, apresenta déficit em conta corrente), o que deixa o país exposto a uma maior vulnerabilidade".

Hugo Macías explica o que pode acontecer na economia do seu país, a Colômbia, durante este ano: "O pífio desempenho da demanda externa e a contração persistente do setor industrial contrastam com os sinais de expansão da demanda interna, com expectativas positivas do mercado de trabalho  e com baixo crescimento do nível de preços, o que permitirá manter uma política monetária que estimulará a economia durante os próximos meses." Entre os setores com desempenho positivo Macías cita a construção, "que gerou otimismo pelo crescimento das licenças outorgadas e pelas remessas recentes de cimento; espera-se que a construção seja a atividade mais importante em 2014".
Macías salienta que o mais importante para a economia colombiana será a recuperação do setor industrial, imerso em uma crise já bastante prolongada, a conservação da geração de novos empregados — que parece ter se consolidado no ano passado — e a correção do déficit comercial crescente. Ele garante que em 2014 "a Colômbia se destacará de maneira positiva no contexto latino-americano, como o fez também nas últimas décadas".