terça-feira, 5 de junho de 2012

Fernando Pessoa: ‘Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim’...


Ano I - Nº 02 - Julho de 2001 - Bimensal - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178

Autonomia Como Objetivo Na Educação
Ana Paula Salvador Werri [*] Adriano Rodrigues Ruiz [**]

RESUMO: Jovens e adultos, muitas vezes, têm dificuldades para assumir posturas autônomas. O objetivo desta pesquisa é investigar a formação moral e intelectual de nossas crianças na escola, trazendo como idéia central a autonomia na educação. Foi desenvolvida a partir de autores como Jean Piaget, Paulo Freire, Rubem Alves, Janusz korczak, Constance Kamii, Leo Buscaglia, Krishnamurti, dentre outros. Eles nos falam de amor, de cooperação e de solidariedade; valorizando o caráter emancipatório e transformador que a educação pode ter.
Palavras chaves: Educação, autonomia, teoria da educação

O grupo PET de pedagogia da UEM desenvolve um projeto de extensão com informática atendendo crianças de instituições da cidade de Maringá. Como integrantes desse grupo pudemos observar como algumas crianças são dependentes, tendo dificuldades de criticar e mesmo de opinar.
O que realmente despertou nosso interesse sobre o tema foi ver uma das crianças, trabalhando no programa Paint de desenho, sentir-se incapaz de escolher o desenho que faria e as cores que utilizaria. Essa situação expressa a dependência intelectual da criança em relação ao adulto, a incapacidade de tomar decisões, isso pode ter reflexos no seu comportamento adulto, gerando comportamento totalmente obediente às estruturas sociais.
Assim, fizemos pesquisa bibliográfica, focalizando o desenvolvimento moral da criança em suas relações sociais e na educação escolar, a partir de autores como Jean Piaget, Rubem Alves e Contance Kamii.

Relação entre educação e sociedade

Somos submetidos a uma educação que nos tornar seres passivos diante dos acontecimentos e submissos a qualquer um que se imponha e mostre poder sobre nós. Temos idéias e condutas uniformes, como nos fala Rubem Alves:
Educação é isto: o processo pelo qual os nossos corpos vão ficando iguais às palavras que nos ensinam. Eu não sou eu: eu sou as palavras que os outros plantaram em mim. Como disse Fernando Pessoa: ‘Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim’.
Muitos são os responsáveis pelo que somos, muitos influenciam em nossas decisões, em nossos pensamentos e na forma de nos produzir como “homens”. Somos o resultado do desejo de nossos pais, professores, líderes religiosos e políticos. Somos influenciados pelos meios de comunicação, o mais eficaz modo de se propagar idéias. Destacamos a tv como o maior deles, massificando da cultura, ao incutir e padronizar.
Apesar de hoje haver toda uma discussão em torno dos meios alternativos de educação, em nossa sociedade a escola ainda é vista como a melhor forma de se obter conhecimento e estágio obrigatório para ascensão social. Ela está estreitamente ligada à nossa cultura, regida por uma estrutura semelhante a da própria sociedade. Percebemos esta ligação ao observarmos a existência de um sistema hierárquico disciplinador, com organização seriada e com discriminação por séries.
A escola [1] , com toda sua autoridade consegue transformar seus “subordinados” (alunos) em sujeitos passivos. Ela consegue impor suas idéias sem contestações, ensinando às crianças desde o principio a absorver e repetir suas lições, tão bem que se tornam incapazes de pensar coisas diferentes. Tornam-se ecos das receitas ensinadas e aprendidas. Tornam-se incapazes de dizer o diferente (Rubem Alves: 1994, 27).
As crianças são educadas para servir a sociedade, para mais tarde exercerem uma profissão que promete preencher suas vidas e realizá-las como seres humanos. Na realidade, o que acontece é bem diferente, essas crianças educadas com técnicas para formar técnicos nas mais diversas áreas, tornam-se frustradas, sofrendo com seus conflitos ou então sendo tão ocupadas que esquecem delas próprias. Os homens sabem construir grandes máquinas, avançam na medicina, descobrem segredos da natureza e do universo, mas são incapazes de se compreender e compreender o outro. Pois para isso não existem receitas e tais coisas nunca foram ensinadas na escola.
O que a escola faz, segundo Nitzesche “é um treinamento brutal, com o propósito de preparar vastos números de jovens, no menor espaço e tempo possível, para se tornarem usáveis e abusáveis, a serviço do governo”, mas Rubem Alves modificaria sua última afirmação dizendo que ao invés de “usáveis a serviço do governo”, diria “usáveis e abusáveis a serviço da economia” ( ALVES: 1994, p.21).
A educação formal limita as possibilidades de fantasia e de liberdade criativa. Dá respostas certas, anulando a experimentação e a formulação de hipóteses pelas próprias crianças. Ignorando o fato de que as crianças pensam e que devem ser estimuladas a isso, talvez pela falta de tempo, pelas exigências curriculares, ou pelo despreparo dos professores. Não importa o motivo, o que constatamos que a escola segue padrões, ignora as diferenças individuais, as diferenças regionais e o histórico de vida de cada aluno, sendo extremamente autoritária. Como verificamos nesta afirmação de Reimer:
As escolas são obviamente, planejadas para evitar que as crianças aprendam o que realmente as interessa, assim como servem para ensinar-lhes o que devem saber. Daí resulta que a maioria delas aprende a ler mas não aprecia  a leitura, aprende seus algarismos e detesta a matemática, se tranca nas salas de aula e aprende o que bem entende nos saguões, pátios e lavatórios (1979: p. 151).
Devido a esse tipo de educação encontramos jovens e adultos sem iniciativa, meros reprodutores, pessoas com dificuldade de integração e cooperação.

O poder da escola

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